terça-feira, 10 de setembro de 2013

Livro "No Credo" gera dúvidas quanto à religião - TEMA: Escravidão

Por Carlos Chagas

Há alguns meses atrás recebi um email de um professor da Bahia chamado Djalma Stuttgen, no qual vinha em anexo o seu livro intitulado "No Credo" (que pode ser baixado clicando aqui) onde neste Stuttgen faz ataques sinceros e pesados a diversas religiões e, dentre estas, o Cristianismo. Mas antes de falar do conteúdo do livro eu gostaria de agradecer a este autor pela nobreza de sua parte em me enviar seu livro GRATUITAMENTE e me permitir publicá-lo e comentá-lo restringindo-me a tão-somente citar sua obra em nota. Muito obrigado pelo envio desta preciosidade. Conforme minha crença: Que Deus seja louvado!

Não há como não me apaixonar pela leitura do mesmo. Os que me conhecem sabem que adoro ler coisas que me desafiam e que me impulsionam a ir além dos meus próprios conhecimentos e o livro "No Credo" consegue me fazer pensar. Porém, as respostas aos primeiros ataques do livro, acredito eu, já foram respondidos pelo chamado "Método Histórico-Crítico" de interpretação dos textos bíblicos e de sua formação e constituição e, no que tange à religião, minha monografia, de 2008 (seu livro é de 2004 com reedição em 2012) trata bem do assunto. Para um exemplo sobre o método histórico-crítico leia um artigo meu clicando aqui, ou caso queira baixar minha monografia clique aqui.

Na primeira parte o autor diz que se uma religião que diz ter como princípio moral o "amar ao próximo" pratica a escravidão, a exclusão sexual (caso da mulher), xenofobia e práticas não adequadas socialmente falando, a mesma não é digna de crédito. Acredito que o problema é de fácil explicação:

1- Para os que entendem que a religião é um processo histórico que parte do homem após sua percepção do Divino não haverá dificuldades com tais textos citados em suas primeiras páginas já que o "amar ao próximo" também é elaborativo e expansivo: Amar aos da minha "tribo" > Amar os que adoram o meu Deus > Amar os que são os meus amigos > Amar os meus amigos e inimigos, ou seja, o meu próximo. Logo, o cristianismo é processual e de avanço progressivo. Mas fica claro que para aqueles que interpretam o cristianismo como sendo algo criado por Deus ao homem terão muito o que explicar.

2- Assim como a religião sofre críticas a partir da leitura de seu passado com a ótica de hoje, assim também qualquer subdivisão e área da sociedade sofrerá críticas ao ponto de se alcançar o niilismo, o qual é nocivo à sociedade. O que se poderia dizer hoje, por exemplo, do capitalismo e sua provocação de crise global que nasceu atualmente na Europa e afeta o mundo todo? E o que dizer da teoria da evolução que insistiu (ou ainda insiste?) em dizer que o homem veio do macaco mesmo tendo cientistas dizendo que o gene mais próximo do ser humano vem dos ratos? E a política? E a democracia? etc, etc, etc. Resumindo: Tudo está no processo!

As leis eram apropriadas para o povo de sua época e para uma leitura honesta de um texto deve-se entender a época da escrita: Existia um sistema tribal e não as nações que conhecemos hoje. Quanto às punições mais severas aos de fora da tribo, isso também tem suas vertentes nos dias de hoje. Um exemplo? Por que as leis brasileiras não funcionam com políticos ou policiais? Por que alguns têm imunidade diplomática enquanto outros não? Uns são mais humanos que outros?

Uma observação que faço ao livro é que há sim evidência de empregos de escravos no Egito conforme estudos da revista Super Interessante (não me lembro a edição) onde se diz que a escravidão não era assim tão ruim como dizem. Mas convém-se dizer aqui que não foram os escravos que construíram as pirâmides. Todavia isso não isenta a escravidão das terras egípcias.

Ao chegar no assunto sobre a escravidão no NT achei o texto por demais tendencioso, uma vez que não aborda circunstâncias e momentos da história daquele povo adequadamente. Percebi também que a profundidade de Stuttgen na história de Jesus é para tão-somente aprovar suas afirmações. Para clarear aqui o que digo relembro a parte que o autor condena Jesus por ter entrado em acordo com os demônios quando este permitiu aqueles que adentrassem na vara de porcos. Ora, e se eu interpretar que a criação de porcos era imundície para judeus? Ou quem sabe outro tipo de interpretação que vá além da usada por Stuttgen?

Vale lembrar também que foi graças a progressiva interpretação humana da vida que nasceu do cristianismo primitivo é que órfãos e viúvas tiveram sua vez na atenção dispersada pela sociedade. Também os prisioneiros puderam adquirir a chance de ter um lugar à luz do sol. Isso graças aos monges. Logo, mais uma vez, a religião se mostrou evolutiva e não tão involuida quanto apresentada por Stuttgen.

Entretanto concordo com Djalma Stuttgen quando este se demonstra contra a escravidão. Segundo minha interpretação (dos tempo de hoje) a escravidão SEMPRE foi um erro. Mas a civilização cresce com seus erros. Nas palavras de um antropólogo de renome: "A formação e motivo de existência de uma sociedade tem por base a violência".

Para continuar com as críticas do restante do livro clique aqui.


2 comentários:

  1. "...por exemplo, do capitalismo e sua provocação de crise global que nasceu atualmente na Europa e afeta o mundo todo?" Erro básico de conhecimento de macro economia. Pra Europa (para o Brasil também) falta capitalismo. As crises cíclicas vem do excesso de keynesianismo. Sugiro a leitura de Mises e Hayek para melhor entendimento a respeito.

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    1. Macro economia? "As crises cíclicas vem do excesso de keynesianismo." Como você pode afirnar isso? Só na segunda metade da década de 1930 o keynesianismo ganhou espaço na teoria econômica. E apareceu como uma resposta ao desesperador estado econômico em que se encontrava o mundo pós 1929 justamente pelo colapso do capitalismo. Sem dúvidas o sr. Carlos Chagas tem toda razão em afirmar que as crises cíclicas são sim causadas pelo capitalismo. Marx tinha previsto a ruína do capitalismo pois o mesmo é contraditório em sua própria origem.Quando houver acúmulo demasiado é preciso que haja redistribuição, nesse caso o Estado precisa, em momentos de crise do capitalismo, injetar recursos próprios, isentar ou diminuir impostos para salvar empresas e evitar o desemprego em massa.
      No entanto fugimos do assunto comentado pelo sr. Carlos Chagas. rss

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